sexta-feira, 10 de julho de 2009

Quem dá mais?

Nunca teve tanta gente no mundo. Nunca as pessoas se comunicaram tanto, seja ao vivo ou por meios de comunicação. Apesar disso, o número de satisfeitos com o próprio relacionamento – ou com a falta de um – parece ser uma raridade. O que percebemos é uma legião de solitários e uma enorme predominância de namoros por conveniência. Pare e pense: quantas pessoas ao seu redor vibram com a vida amorosa que tem? Na minha visão, umas das principais razões para esse aparente paradoxo é uma coisa que parece não ter nada a ver com os relacionamentos: a lógica do consumo.

Somos doutrinados a sermos consumistas. Desde pequenos aprendemos que o consumo é uma forma de inserção na sociedade, e também o que condiciona em que lugar dela nos posicionamos. Por mais conscientes que sejamos dessa lógica, acabamos por internalizá-la. Queremos sempre a novidade do momento, que, se adquirida, é prontamente consumida para dar espaço para a próxima. O novo seduz, mas dura apenas o suficiente para não travar a frenética roda viva.

Essa lógica perversa acaba naturalmente por extravasar o campo econômico e invadir as demais áreas de nossas vidas. Nos acostumamos a valorizar o bom, bonito e rápido em detrimento do consistente. É exatamente esse gosto pelo descartável o que invade o campo amoroso, vitimando prematuramente grandes histórias e promovendo o nascimento de romances descabidos.

Para se desenvolver um relacionamento é necessário calma e paciência. Já vi várias e várias reportagens com casais que estão juntos há décadas. A resposta para a pergunta “Qual o segredo de uma relação duradoura?” é sempre a mesma: “Paciência!”. Aliada à paciência, outro atributo fundamental para um longo relacionamento é a calma, o que permite a você ver além da cortina de fumaça e esperar o tempo certo de achar e conhecer alguém. Noutras palavras, ir descobrindo a pessoa aos poucos até se encantar, caso o perfil dela bata com o seu.

A lógica do consumo vai de encontro a esses comportamentos. Ao invés de ter a calma de esperarmos o sentimento se desenvolver no seu tempo, queremos tudo aqui e agora. Não importa as possibilidades de futuro, as afinidades profundas. Não importa nada que vá além da cortina de fumaça. Queremos ser prontamente atraídos por meia dúzia de duas ou três qualidade ocas, para nos encantarmos logo de cara e idealizarmos naquela pessoa algo que ela não é. Desejamos o produto mais bonito e empolgante.

Se a calma não concorda com a lógica do consumo, a paciência muito menos. Passada a empolgação dos primeiros encantamentos vazios, vem o choque com a realidade. Muitas vezes, quando se nota que a pessoa não é aquele ente maravilhoso fantasiado, o caminho óbvio é descartá-la e seguir para a próxima. A paciência de agüentar os defeitos do outro para, naquilo que te incomoda, achar a verdadeira graça, não tem vez.

Na outra ponta da decepção pós-euforia inicial, há os que se conformam com a mediocridade e jogam a poeira para debaixo do tapete. Obedecendo puramente à lógica do consumo, o sujeito simplesmente se desfaria do produto “sem graça” ou “defeituoso”. Porém, neste caso a separação é dolorosa e pode ter doídos efeitos colaterais. Para evitar sofrimento, portanto, opta-se por deixar rolar e conviver com um ex-parceiro em atividade ao seu lado.

A análise fria dos fatos poderia levar algum desavisado a crer que hoje o amor prospera mais do que nunca. Porém, o que se vê é o contrário. Parte disso deve-se à lógica do consumo que leva-nos a fazer escolhas baseadas em aspectos efêmeros das pessoas. Passada a euforia, descartamos o relacionamento ou nos adaptamos à mediocridade. Em tempos como os de hoje, quando a maioria dos namoros dura menos que um carro, paciência e calma são produtos em falta no estoque.

2 comentários:

  1. Menos que um carro, sem dúvida!! Esse sim é parceiro de vida e de histórias pra contar!!

    Ainda estou para encontrar o casal "perfeito", naquele relacionamento naturalmente feliz. Não existe.

    Tudo se resume à trocas. Liberdade x Companhia. Você escolhe.

    ResponderExcluir
  2. É verdade. Mas mais interessante que o comentário é o fato dele ter sido feito às 8:59 de um domingo. Da-lhe disposição pra acordar cedo!!

    ResponderExcluir