sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Michaelzinho Gaucho



Ronaldinho Gaucho quer se aposentar! A afirmação, feita no último mês pelo jornal catalão Sport, gerou debates no mundo todo. O meia de 29 anos do Milan, claro, desmentiu os rumores alegando que a imprensa deve ter mais cuidado com o que publica e blá, blá, blá. Se a notícia era verdadeira ou não, nunca saberemos. Mas não importa. O importante – e preocupante - é que ela foi verossímil.

Ronaldinho é jovem, um cracasso, mas não joga um bom futebol desde 2006. Até trocou o Barcelona pelo Milan para ver se voltava a produzir, e nada. Como falta de talento seguramente não é o seu problema, resta a conclusão de que a ele falta estímulo. E esse é o problema. Ele é bem sucedido naquilo que gosta, ganha bem para trabalhar e sente-se desestimulado. Porque?

Poderíamos até dizer que é um problema pessoal. Mas ai como explicar que uma notícia de intenção de aposentadoria de Adriano ou de Ronaldo Fofão também seria verossímil? Três dos mais importantes jogadores da seleção em 2006, ainda no auge, não se vêem estimulados para jogarem futebol – mesmo sendo isso aquilo que amam e ganhando bem.

O problema não está nos atletas, mas sim na lógica do esporte. Até a década de 70 a principal função de um jogador era jogar bola (oh!). Na década de 80, com o aumento considerável das somas de capital ligadas ao esporte, surgiu a indústria do futebol. Os grandes atletas deixaram de ser apenas jogadores para virarem ídolos pop, produtos como as estrelas do cinema ou da música. O Ronaldinho, antes de ser um atleta, é uma marca. O seu futebol, em segundo plano, é o que movimenta mais ou menos rápido as engrenagens financeiras que o tem como centro.

Junto com o mar de dólares que invadem a conta do craque vem a série de contratempos da indústria, como a pressão constante por resultados, compromissos comerciais intermináveis e a superexposição – inclusive de sua vida privada. Além dessas pressões do mercado, ele ainda tem que lidar com o próprio meio do futebol, mais sujo do que pau de galinheiro, com disputas no elenco e dirigentes picaretas. Em torno dele há todo um contexto que vai muito além das quatro linhas, e sufoca a diversão que ele possa ter fazendo o que gosta.

Por anos ele deve ter empurrado essas encheções de saco com a barriga, mas chegou uma hora em que o desestimulo reinou. Como todo jovem ele começou a carreira querendo sucesso e riqueza. Agora não tem mais para onde ir. Está mais endinheirado do que poderia sonhar, venceu Campeonato Espanhol, Copa dos Campeões da Europa, Copa do Mundo e foi duas vezes eleito melhor jogador do mundo pela FIFA. Ele não tem mais porque agüentar tudo que agüentou.

Ronaldinho está mais para Michael Jackson do que para Pelé na função que exerce. A indústria do futebol faz dele, em primeiro lugar, um ídolo pop. Como ele já conquistou tudo que podia e enriqueceu até a 15ª geração da sua família, não tem mais estímulo para suportar as pressões e continuar numa profissão em que o ambiente é mais sujo que pau de galinheiro. Não acredito que ele vá se aposentar, pois as pressões contrárias a isso são muito fortes. Mas que qualquer dia ele aparece branco e com um nariz fininho, disso eu não duvido não.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O porquinho tá out


A gripe suína te pegou? A mim também não, mas mesmo rejeitado pelo vírus fui saber como ele andava. Foi uma dificuldade só. Rodei por sites e mais sites atrás de qualquer notícia recente sobre a doença, e nada. Como persistência nunca foi meu forte, resolvi me contentar com o que achei de mais recente: uma matéria de 23 de setembro.

Entre abril, quando começaram os registros, e aquela data, a “epidemia” da doença “já” havia matado 1.047 brasileiros de um total de quase 10 mil contaminados. Os Estados que tiveram mais óbitos foram São Paulo (327), Paraná (242) e Rio Grande do Sul (183). A partir daí todos registraram menos que cem mortes pelo vírus, sendo que Amapá, Tocantins, Maranhão, Piauí e Ceará não tiveram nenhum óbito.

Esses dados revelam que, depois de todo furor causado pela mídia com a chegada da doença, o anunciado maremoto não passou de marolinha. Para se ter uma idéia, em 1998, na epidemia da dengue, 363 mil brasileiros foram contaminados, 30 vezes mais do que o número de contaminações registrados pela gripe suína este ano. De abril a setembro de 2009, enquanto 1.047 pessoas morriam no Brasil pela doença dos porquinhos, as doenças do coração vitimaram 98 mil pessoas, os acidentes com transportes mais de 15 mil, os confrontos entre bandidos e polícia 23 mil, a gripe normal 3 mil e até os acidentes de trabalho ganharam dos suínos, matando aproximadamente mil e 500 pessoas.

Além de obviamente exagerada, a cobertura da epidemia também foi no mínimo curiosa. Se de abril a agosto as matérias sobre ela eram quase diárias, em setembro praticamente não se ouviu falar no vírus – como prova a minha dificuldade em achar números atualizados. E sabe em que mês mais gente morreu pela doença? Justamente em setembro! Fica claro que a intensidade da cobertura não variou devido à gravidade do quadro, pois se fosse assim estaríamos até hoje agüentando as notícias exageradas que nos chegavam diariamente. É difícil saber porque tanta farofa foi feita em torno de tão pouco, mas é certo que nenhuma relação teve com a situação real.

A epidemia de gripe suína não pegou ninguém. Se você teve a glória de contrair o vírus pode se considerar um privilegiado, pois está numa lista seleta que inclui apenas 1 em cada 18.000 brasileiros. A mídia empurrou pela nossa goela bombas de efeito moral que não machucaram quase ninguém, mas assustaram uma turma forte. O curioso é ver que enquanto as doenças do coração matavam 98 mil e a gripe suína 800, muitas pessoas comiam no McDonald´s, deixavam de fazer exercício físico e se achavam prevenidas porque passavam álcool gel na mão.