sexta-feira, 19 de março de 2010

Os cinco maiores do século XX

Tentei mudar o estilo dos textos pra deixar de ser polêmico. Jurei que não analisaria “fatos por trás dos fatos”. Falhei em metade da missão. Consegui não falar de teorias da conspiração, mas o que escreverei a seguir, acredito, será bastante polêmico. Depois de muito pensar listei, acompanhada da devida explicação, os cinco brasileiros mais importantes do século XX. A relação não vem em ordem de posição, apenas em ordem alfabética. Seja o que deus quiser.

Chico Xavier – Por coincidência (ou não), se dispusesse os eleitos em ordem de importância Chico Xavier ficaria em primeiro. Ele foi o mais importante médium brasileiro da história, sendo diretamente responsável pelo fato de hoje o Brasil ser o país com maior população espírita do mundo, com 3 milhões de fiéis. Só a trajetória de Chico Xavier como escritor já é espetacular. Em exatos 70 anos o médium psicografou 412 livros, uma média de mais de 5 por ano! Vendeu nada menos que 50 milhões de exemplares em mais de 10 línguas. Além disso – e mais importante – passou os 70 anos de sua vida desde a conversão ao espiritismo ajudando um número incontável de pessoas, que chega facilmente a muitos milhões. Fazia isso ou através da mediunidade ou doando as boladas que ganhava de direitos autorais. Trabalhou em um armazém até se aposentar com 65 anos, e aos 92 anos, em 2002, morreu sem nenhum bem em seu nome.

Getúlio Vargas – Vargas foi presidente do Brasil por 19 anos. Governou o país de forma quase integralmente inconstitucional, entre 1930 e 1945, e depois eleito por voto direto, entre 1950 e 1954, quando se matou. Nos primeiros 15 anos de governo revolucionou o país. Quebrou o lenga-lenga rural da República-velha e lançou as bases do Brasil moderno, iniciando a urbanização, a industrialização, dando direito de voto às mulheres e criando a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). No campo cultural estimulou o desenvolvimento da comunicação de massa e “descriminalizou” o samba, oficializando as escolas. Para coroar estes 15 anos ainda fundou a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), base do futuro surto industrial. No segundo governo, entre 50 e 54, aprofundou o modelo industrial e criou a Petrobras. Não quero fazer aqui uma exaltação de Vargas. Ele foi um ditador e seu legado também inclui o populismo como forma de tratar as massas e a legitimação do emprego da força para justificar o desenvolvimento excludente. Mas para o bem ou para o mal, sem Vargas o Brasil não seria nem perto o que é.

João Havelange – Durante quase todo século XX o Brasil não foi quase nada para o mundo. Éramos um paisinho engraçadinho da periferia, no melhor dos casos. Foi neste contexto que João Havelange conseguiu se firmar como a maior figura do maior esporte do mundo, o futebol. Depois de ser presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) foi eleito presidente da FIFA em 1974, cargo que ocupou até 1998. Durante este período levou a Federação a passar de uma pequena instituição defcitária quase despejada de um prédio alugado na Suiça a uma das marcas mais poderosas e ricas do mundo. Visitou 196 países durante o mandato, conseguindo proezas como abrir a fronteira entre Coréia do Sul e Coréia do Norte para sua própria passagem. Seu poder chegou a tal patamar que elegeu também o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Juan Antonio Samaranch, em 1980. Atualmente com 94 anos, acumula medalhas de honra de inúmeros países e foi devido ao seu próprio esforço que o Rio de Janeiro ganhou as Olimpíadas de 2016.

Juscelino Kubitschek – Ao contrário de Havelange, Vargas e Chico Xavier, o que trouxe JK a essa lista foram feitos que ocuparam um intervalo curto do século. As transformações levadas a cabo pelo mineiro ocorreram no período de cinco anos em que foi presidente, que de fato valeram por 50 anos de mudanças. JK catalisou o movimento iniciado por Vargas e definiu o Brasil como um país industrializado, urbano e conservador. Trouxe pela primeira vez grandes indústrias para o país, construiu inúmeras estradas, acelerou o êxodo rural, inchou as cidades sem nenhuma estrutura e alavancou o PIB com taxas de crescimento de quase 10% ao ano. Além disso, construiu Brasília em tempo recorde, definido pelo urbanista Lúcio Costa como “um milagre”. Foi talvez o primeiro empreendedor a governar o Brasil, aquele que teve coragem de meter o bisturi e mudar o rosto do paciente. Ao final de apenas 5 anos o Brasil era um país totalmente diferente do período pré-JK, tanto em qualidades – uma economia muito maior e mais dinâmica – quanto em defeitos – a inflação e a dívida externa estavam galopando.

Pelé – Ser preto e unanimidade num país racista já seria razão suficiente para relacionar Pelé nesta lista. Mas seus feitos esportivos superam esta façanha social. O atacante jogou profissionalmente de 1957 a 1973 pelo Santos, marcando 1284 gols em 1375 partidas, média impressionante de 0,93 gol por jogo. Jogou também 115 vezes pelo Brasil, marcando 95 gols. No total ganhou 30 títulos, entre eles o tricampeonato da Copa do Mundo. Em um esporte marcado por debates polêmicos consegue a proeza de ser apontado por todos os brasileiros e quase todo o mundo como o melhor jogador de todos os tempos, tendo recebido o prêmio de Atleta do Século do COI e Melhor Jogador do Século da FIFA. Devido a toda essa carreira chegou até a parar uma guerra civil na África, em 1969, quando duas etnias que lutavam aceitaram assinar um armistício para ver o Santos de Pelé jogar.