quarta-feira, 5 de maio de 2010

Espera arrombar!

No último sábado, dia 1º/5, um turista dinamarquês que fazia trilha na Floresta da Tijuca morreu. Ele seguia o percurso junto com mais cinco gringos quando o corrimão enferrujado que deveria ajudá-lo no trajeto arrebentou e ele caiu ribanceira abaixo. Stephen Skelton só parou de despencar no Rio da Viúva, com ferimentos graves. O resgate, que deveria estar a postos no Parque, demorou uma enormidade para chegar. Stephen só conseguiu ser atendido por um médico mais de meia hora depois, praticamente sem vida.

A Administração do Parque da Tijuca disse que vinha pedindo há tempos à Prefeitura investimentos em infra-estrutura e pessoal qualificado para efetuar resgates. Rodrigo Dantas, secretário responsável pelos parques do Rio de Janeiro, defendeu-se da acusação de negligência por parte do governo, afirmando que a secretaria já tinha um projeto de reurbanização dos parques cariocas: “A intenção é que até 2012 tenhamos reformado todos os 1.134 km de trilhas da cidade. Faremos uma inspeção em todas estas vias durante a semana e interditaremos as que não estejam dentro das normas.”

A morte do gringo numa trilha carioca é chocante, né? Só que é mentira. Inventei tudinho: nomes, datas, dados. Porém, a notícia é verossímil porque já estamos acostumados a ver uma tragédia banal ocorrer e depois todo mundo se compadecer e as autoridades lançarem mão de remendos de emergência.

E o pior é que, enquanto escrevo, uma infinidade de coisas parecidas estão para acontecer. Poderia ter inventado que uma van atropelou um menino e o governo investigará o transporte ilgeal, que uma favela pegou fogo devido aos gatos e subitamente descobrimos que metade do Rio não paga energia elétrica ou que vazaram milhões de litros de esgoto na praia porque (oh!) nosso sistema de tratamento é uma merda. O cardápio é variado, bastas escolher.

Esse menu farto não é acaso. Temos todos, desde o faxineiro até o presidente (porque o faxineiro sempre se fode?), a cultura de não prevenir e depois dar remédios paliativos. Foi assim no caso do morro do Bumba, Gunga, Dumba, sei lá o nome, que desabou durante as enchentes por ser construído (e urbanizado pelo governo!) em cima de um lixão. E estamos vivendo isso neste momento, atrasando as obras da Copa, um atraso que foi classificado pela FIFA como “incrível”. Que glória.

Para o brasileiro, é melhor remediar do que prevenir. Prevenir é chato, remediar é heróico. Surgem os heróis da enchente, os heróis que perderam tudo, os heróis da limpeza da praia, os heróis que doam roupas pros desabrigados, os heróis do resgate. Uma nação de heróis que não deveriam ser e da prevenção que não é. No Brasil, a graça é esperar arrombar a porta para depois botar a tranca.

3 comentários:

  1. Concordo 100%

    No Brasil, quem previne não é herói, é careta...

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  2. agora, quando eu falo que vacina é importante pq é a melhor forma de prevenção, é bla bla bla wyskas sachê.

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  3. Vacina é palhaçada. Eu to falando é de prevenção séria

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