domingo, 24 de outubro de 2010

Lalalá das UPPs


Você provavelmente já ouviu este discurso. Basta alguém sofrer um crime na zona sul carioca para um espertalhão cravar: “São as UPPs! Os traficantes não tem mais como ganhar dinheiro e estão descendo para assaltar!”. É um daqueles raciocínios sedutores por serem pseudo-antenados e mostrarem a capacidade do sujeito ligar A com B. Sinceramente eu duvido que algum dos papagaios que repetem isso tenham ido pesquisar para falar sobre o assunto, tampouco conheça um traficante para saber o que ele fez depois que a firma quebrou.

Resolvi averiguar se os crimes de asfalto estavam crescendo. Alice foi ao País das Maravilhas, Dorothy passeou pela estrada de tijolos dourados e eu baixei os números da segurança pública do município do Rio de Janeiro. Até meu sobrinho de dois anos sabe que as estatísticas são fantasiosas, mas como a fantasia abate-se igualmente sobre todos os meses, dá para comparar uma ficção com a outra e saber se em linhas gerias a chapa esquentou ou esfriou.

Comparei os números dos crimes contra o patrimônio, que seriam aqueles adotados pelos traficantes órfãos da boca. Analisei as estatísticas de agosto de 2008, anterior à instalação das UPPs, com as de agosto de 2010. O resultado foi um massacre positivo para os dias de hoje: as únicas formas de crime que aumentaram foram os roubos de cargas, que não importam muito nesta análise, e os roubos em coletivos, passando de 383 ocorrências para 427. TODOS os outros tipos de violência diminuíram, como roubo de celulares, assaltos a pedestres, roubos de casas e de estabelecimentos comerciais. Os roubos de carros, então, despencaram, indo de 1.521 em agosto de 2008 para 917 dois anos depois.

Não tem muito o que argumentar contra estes números. A criminalidade caiu na capital carioca depois da instalação das UPPs. É claro que um ou outro traficante órfão pode ter buscado uma nova atividade econômica roubando no asfalto, um efeito colateral plausível. Mas o fenômeno das UPPs está longe de ter provocado maior insegurança na zona sul. Pelo contrário, reduziu o número de crimes.

Pode comemorar! “Eles” não estão descendo (é impressionante que a gente fala de traficante como se fossem ETs). O Rio não virou o paraíso, mas também não piorou com as UPPs. Tá certo que arrisquei morrer de crise de riso indo ao submundo das estatísticas de segurança pública. Mas ficou claro que a papagaiada de uma zona sul mais perigosa depois da instalação das UPPs é puro lalalá. Quem acreditar nisso daqui a pouco tá acreditando em Chapeleiro Maluco e Rainha de Copas.

2 comentários:

  1. Ainda que concorde com seu artigo, para o bem da estatistica proponho que voce faça essa mesma comparação com anos anteriores pra ver se a queda de 2008 pra 2010 é parte de uma tendencia de queda ou se essa queda pode ser atribuida as UPPS.

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