Apesar da trama ser muito muito boa, ela não trás ABSOLUTAMENTE nenhuma novidade para alguém que tenha buscado um mínimo de informações nos últimos anos. O crescimento das milícias, a promiscuidade entre poder público e crime organizado, o sensacionalismo hipócrita da mídia, a corrupção policial. Tudo isso foi assunto recorrente de jornais, revistas e telejornais. Mas a classe média que prefere ver “A fazenda” a um debate político não tem a menor ideia do que se passa a sua volta e descobre fascinada toda essa realidade a partir das aventuras do seu coronel, o D. Sebastião redentor dos tempos modernos.
Pior do que as palmas da ignorância é o cidadão recém-parido. Ele acha que realmente fez um belo trabalho cívico ao ver o filme, que saiu da sala de cinema mais preparado e ativo, que o êxstase foi o começo de uma trajetória. E no chopp depois do cinema xinga o governador, o presidente, o prefeito... qual o nome dele mesmo? É aquele rapazinho do choque de ordem...
Mas a euforia não dá em nada, tem um fim em si. Os aplaudidores da ignorância sairão de lá e voltarão a votar em um deputado porque o vizinho pediu, a não saber o que faz um senador, a pegar um jornal e ir pras colunas de fofoca e a colaborar para a média anual brasileira de um livro lido por pessoa (1!!! eu dise 1!!!).
Tropa de Elite 2 merece aplausos, mas senti nos aplausos um ar de descoberta. E essa descoberta é deprimente, porque não havia o que descobrir: a realidade retratada é flagrante há anos. Mas como a classe média sabe mal e porcamente o que ocorre à sua volta, vê na obra a redenção de seus pecados de alienação. Cre estar exercendo a cidadania. Mas este parto dá origem e um cidadão natimorto, que acha que ver o filme, se lambuzar com as peripércias do coronel e falar qualquer coisa engajada durante o chopp bastam para mudar um país. Com Nascimento nascem, com seus pecados, novamente, padecerão.