terça-feira, 22 de março de 2011

Tsunami carioca (parte 2)

Segundo dia

Em função dos desentendimentos quanto à responsabilidade da Tsunami, prefeito e governadora agiram do modo como bem entendiam.

O prefeito estava atônito, pois o incidente vitimaria principalmente os ricos moradores do litoral, ou seja, seu eleitorado. Por isso, não teve dúvida: criou uma guarda municipal, os “Anjos do Tsunami”. Estes bravos homens teriam como objetivo levar as classes mais abastadas para locais seguros, humildes mansões que a prefeitura tinha alugado na região serrana através do recém-criado programa “Morar Bem”.

Para poupar as moradias dos pobres ricos, o prefeito iniciou a construção de grandes calhas, para que a força das ondas fosse canalizada para outro lugar. Este lugar seria a encosta dos morros onde, coincidentemente, o eleitorado da governadora morava. Segundo o prefeito, “estudos complexos de ambientalistas comprovaram que a estrutura sólida dos morros teria toda a capacidade de escoar a água de volta ao mar”. Deve-se louvar a capacidade dos ambientalistas de elaborarem um estudo complexo em menos de 24 horas.

A governadora pensava de modo diferente. Para ela, a graça não era evitar o desastre maior, mas sim deixar que ele acontecesse com toda a força para só então agir como uma verdadeira heroína. Pensando nisso, criou o inédito programa de assistência “Jet-Ski a um real”. Este programa garantia a cada cidadão fluminense o direito de, a partir do pagamento de um real, adquirir um Jet-Ski e uma raspadinha da Loterj, para fazer valer o direito de ir e vir após o desastre e concorrer a um carro zerinho.

Na Câmara, aconteceu o de sempre: nada. Por falta de quórum, o presidente da Casa adiou para o dia seguinte a votação do projeto de ajuda aos afetados pelo desastre. De todos os deputados, só cinco compareceram, e mesmo assim para a festinha de aniversário de um dos faxineiros. Segundo relatos, grande parte dos ausentes já tinha saído da cidade há muito tempo com medo que a Tsunami resolvesse dar uma corrida e chegasse antes. A outra parte dos desaparecidos estava em Salvador, no show da Ivete Sangalo e do Chiclete com Banana. A sessão foi remarcada para o dia seguinte.

Fazendo a sua parte diplomática, o presidente, que naquele mesmo dia já tinha tirado o corpo fora e embarcaria em uma viagem à toda-poderosa Guiana-Francesa, desejou "Força a todo povo do Rio de Janeiro para resistir aos estragos provocados por esse vendaval". Era maremoto.

(Em breve, o final da saga...)

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