terça-feira, 19 de abril de 2011

Tsunami carioca (Parte final!!!)

A Tsunami

A Tsunami não veio. Na verdade, não havia Tsunami nenhuma. O dia do anúncio de sua vinda foi muito calmo, não houve escândalos de corrupção na política, jogos do Brasileirão ou greves. A mídia não tinha nada com que encher seus programas nem suas páginas, o que levou-a a nem pensar duas vezes na hora de noticiar que uma Tsunami estava chegando. O “furo” não passava de especulação de um estagiário recém-contratado pelo Instituto de Meteorologia. A onda, na verdade, não passava de uma ressaca normal de dois metros que nem chegou a atingir as avenidas à beira-mar. A única vítima do que seria a Tsunami foi o Seu Joaquim, aposentado de 66 anos, que perdeu a barraquinha de água de coco.

Mas a cidade já era um caos. Por conta do superfaturamento das calhas, do pagamento dos pedágios, do aluguel das casas do plano “Morar Bem” e da invenção dos Anjos do Tsunami, o município tinha gasto além da conta e estava falido.

O Estado também tinha chegado à bancarrota. Os gastos excessivos com o plano “Jet-Ski a um real” somados aos reajustes concedidos aos deputados esgotaram ainda mais suas já saturadas finanças.

Também não havia autoridades na cidade. O prefeito tinha se esquecido que havia Tsunami e tentava a todo custo salvar sua carreira política em Brasília, enquanto a governadora se esforçava para destruí-la. Se o poder executivo estava longe, o mesmo poderia se dizer do legislativo. Pelo segundo dia seguido, ninguém foi à Câmara dos Deputados.

Vendo que os seus chefes não estavam mais, a polícia também aproveitou para correr. Depois de executar as últimas prisões pela “farra do Jet-Ski”, o comandante geral da PM autorizou a todos que saíssem da cidade e salvassem as suas vidas.

Sem a elite - hospedada nas serras com a grana da prefeitura -, os policiais, o prefeito, a governadora ou os deputados, só sobraram na cidade as classes populares, os marginais e os criminosos, que não tinham condições de fugir. E eles fizeram a festa. Descendo as encostas dos morros, saindo das periferias e fugindo em massa das prisões, tomaram todo Rio de Janeiro, apoderando-se das casas abandonadas dos ricos e saqueando os estabelecimentos comercias fechado. O Rio de Janeiro virou um caos completo mesmo sem a Tsunami. Moral da história:

Nossa Tsunami, a gente faz em casa

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Tsunami carioca (parte 3)

Terceiro Dia

O Rio de Janeiro conseguiu a glória de se tornar um caos antes mesmo da chegada da Tsunami.

Os projetos da prefeitura atingiram parte do objetivo. A calha que estava sendo construída teve suas obras interditadas. A juíza da décima-quinta vara, cunhada da governadora, acusou-as de superfaturamento. Na verdade, era realmente um pouco estranho cada tijolo ter custado R$ 25 e o orçamento total ter um custo quatro vezes maior que o previsto. Com a interdição, a população invadiu o canteiro de obras para conseguir tijolos, cimento e tudo mais que fosse necessário para conter a Tsunami e reconstruir as casas, gerando conflitos com a polícia, alguns feridos e muitas prisões.

Aproveitando-se deste momento politicamente fraco do prefeito, a governadora chutou a paçoca e foi a Brasília pedir pessoalmente o início da “CPI da calha”. O prefeito, então, também foi obrigado a ir a Brasília elaborar uma articulação política pelo fim do início da CPI.

Apesar da calha ter sido um fracasso, o escoamento dos ricos para a serra foi um sucesso. O problema foi que o preço do pedágio triplicou em função de uma decisão extraordinária da concessionária que administrava a rodovia e se aproveitou do aumento no fluxo de carros provocado pela Tsunami, o que obrigou o município a arcar, gentilmente, com os custos extras dos fugitivos da enchente, gastando além do orçamento.

O projeto “Jet-Ski a um real” foi um sucesso. Esse é o problema. Como não havia nenhuma estrutura para a distribuição dos Jet-Skis, a fila virou uma zona, com arrastões e o famoso empurra-empurra. Isso obrigou a polícia a intervir, deixando cinco feridos e mais alguns presos. Além disso, os Jet-Skis esgotaram rapidamente, e algumas pessoas que haviam conseguido vários desses veículos na confusão passaram a vendê-los no mercado negro.

Outro problema foi que após conseguir os veículos, ninguém queria esperar pela Tsunami, e houve uma invasão das praias e lagoas por pessoas que nunca tinham pilotado Jet-Skis mas estavam loucas para usar os brinquedinhos. Após uma série de acidentes e muitas ligações para o disque-denúncia, a polícia teve de iniciar uma intensa repressão, que deixou mais alguns feridos e outro tantos presos.

À câmara dos deputados, ninguém foi. Afinal, naquele dia havia mais risco ainda da Tsunami vir, o show na Bahia ainda não tinha acabado e não havia festinha para ninguém. Sem deputados, a ajuda para as vítimas não foi votada. Entretanto, os aumentos concedidos de 50% no vale-paletó e no vale-alimentaçao, além da autorização para contratar mais dez acessores, não foram retirados.

Em breve, "A tsunami", a parte final da saga (dessa vez de verdade)